Grupo de Pesquisa

HOMENAGEM - Newton Ramos de Oliveira: Incansável homme des lettres


ITAPIRA


Comendador João Cintra, no. 33
casa à beira da queda
entre o bosque as árvores e o rio
tudo escorrendo
manso e preguiçosamente
em meandros ao sol.

Comendador João Cintra, no. 33
rua de pedras areias cercas
sol claro curvas do rio
árvores árvores árvores
quedas pedras águas jangadas
vertigem.

Ah, Itapira, Itapira!
o planalto contra a planície
a tensão entre dois planos
que se contemplam se enamoram
e não se encontram.

Guardas meu sangue células poros
pelos nervos medos amores fobias
atrações e repulsões.
Guardo tua paisagem real
(e principalmente imaginária)
em meu corpo árvores árvores
pedras rios águas jangadas

De longe, nas praias do mundo
que busquei e perdi
revelo e escondo, reproduzo e destruo
(eu simples tensão entre dois planos)
a tua imagem
no silêncio do porto
no silêncio do porto.


Segundo o próprio autor: “este é o poema que melhor tenta explicar-me”.

Newton Ramos de Oliveira, nasceu em 19 de março de 1936, em Itapira, SP. Casou-se com Ledercy Gigante de Oliveira e teve duas filhas, Paula Ramos de Oliveira e Marina Ramos de Oliveira. Duas Netinhas: Valentina Ramos de Oliveira Pereira e Manuela Ramos de Oliveira Pereira.

Construiu uma sólida formação acadêmica e humanista; foi antes de tudo um professor: formou-se em Letras Anglo-Germânicas, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto, em 1960; graduou-se em Pedagogia, com habilitação em Administração Escolar e Supervisão, pela UNAERP, em 1977; tornou-se também bacharel em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito de São Carlos, em 1981. Cursou o mestrado em Educação na UFSCar, sob a orientação de Valdemar Sguissardi e defendeu, em 1989, a dissertação “SAPERE AUDE- A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto no período 1957-1964”. Doutorou-se em Educação com a tese “A palavra partida: a formação democrática numa sociedade de classes, 1993. Foi meu orientando de doutorado. Na verdade, eu mesmo o orientei muito pouco. Ele já tinha experiência suficiente e capacidade reflexiva e expositiva para analisar seu objeto de pesquisa e construir sua tese de doutorado. Fui, sim, um seu leitor privilegiado.

 Desenvolveu suas atividades acadêmicas e científicas como docente universitário da UNESP, de 1960 a 1996, no Departamento de Letras, em São José do Rio Preto, SP, e no Departamento de Didática, em Araraquara, SP. Acumulou cargos de professor de português e inglês; diretor de escola e supervisor de ensino da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo no período de 1959 a 1988. Segundo um texto escrito por sua filha Paula, “A ditadura deixou inúmeras marcas na vida do meu pai, da minha mãe e de tantos outros. Foi preso, perdeu seu cargo na universidade, deixou-o 5 anos sem poder assumir seu cargo de diretor, picaram seu RG, e tanto mais. Apesar disso, em 1967 conseguiu fazer outro RG, alegando ter perdido o anterior. Sua identidade, porém, cada vez mais se fortaleceu” (Este texto será postado no site do Grupo de Pesquisa Teoria Crítica e Educação).

Amo o silêncio, a pausa, o espaço em branco, pois isto é o inalcançável.

Se, de um lado, Newton era antes de tudo um professor; da mesma maneira era também um apaixonado tradutor. Traduzir, para ele, era a tentativa de, através dos conceitos e das palavras, trazer para uma cultura ideias, conhecimentos e narrativas produzidas em outra cultura. E Newton se comprazia nessa atividade. Conhecia os idiomas:  Inglês; Alemão; Espanhol; Italiano; Esperanto e  Francês.

E, com esse instrumental linguístico em suas mãos, traduziu obras do italiano Mario Manacorda (Marx e a pedagogia moderna. Campinas - SP: Alinea Editora, 2007); do alemão Theodor Adorno (Teoria da Semiformação, entre outros); do inglês (traduziu pelo menos 9 artigos do saudoso professor israelense Ilan Gur-Zeev, de Haifa, falecido há poucos anos; e que tivemos a honra de tê-lo conosco no IV Congresso de Teoria Crítica, realizado em 2004.

Participação de Newton no Grupo de Pesquisa, de 1991 até 2010 (intensa). A partir dos anos 2009, a saúde de Newton começou a piorar e, como consequência natural da vida, sua participação nas atividades do Grupo de Pesquisa. Newton veio a nos deixar no dia 18 de novembro de 2013, em São Carlos, SP. E hoje, mais do que nunca sentimos sua presença entre nós, nos incentivando a continuar nosso trajeto, nossos caminhos. Não poderia deixar de terminar essa homenagem a nosso amigo e membro do Grupo de pesquisa Teoria Crítica e Educação, sem deixar de ler um aforismo que escrevi sobre ele, em 2001, por ocasião de nosso grupo de pesquisa completar os dez anos de existência e que li esse aforismo ao me despedir dele no triste 19 de novembro de 2013.


Incansável homme des lettres, amante do bem falar e do bem escrever, conhecedor de outras línguas/de outras culturas, tradutor nas horas vagas. O tempo todo brincando magicamente com as palavras, extraindo delas humor e poesia. Um anacrônico de seu tempo. Que adianta entender o latim e citar Horácio e Ovídio de cabeça?! A hora atual, dos “sofistas” das novelas e da comunicação, é-lhe mais desfavorável que nunca. No entanto ele persiste em acreditar na fecundidade do pensamento, que se expressa nos textos densos, rigorosamente tecidos, na busca sem pejo da felicidade do bem dizer e na liberdade desenfreada de não se submeter à triste realidade. Vagabundeia serenamente pelos botecos do espírito. Um compulsivo compositor de textos: faz poesias, escreve ensaios, constrói resenhas, elabora traduções. Produz de manhã, de tarde, de noite. Durante a semana e nos fins de semana. Mas gosta também de um joguinho de baralho com velhos colegas, de um papo amigo recheado de cerveja e de risos, de ler o Caderno “Mais” da Folha, de assistir a bons filmes. E de tudo isso extrai fragmentos preciosos para seus escritos e seus falares. É o exemplo supremo do diletante, daquele que ama apaixonadamente o que faz. Ele é um dos anônimos participantes do grupo de estudos e pesquisa, que, com sua singularidade amadurecida, fecunda os encontros, enriquece a discussão, entusiasma a garotada 


Prof. Dr. Bruno Pucci

Piracicaba, 1º de setembro de 2014.

TEXTO COMPLETO

HOMENAGEM AO PROFESSOR NEWTON RAMOS DE OLIVEIRA

Últimas Notícias

 

 

Comemoração 20 anos do GP de Teoria Crítica e Educação - Programação
Comemoração 20 anos do GP de Teoria Crítica e Educação - Agradecimentos
Lançamento do site do grupo de estudos Sociedad de Estudios de Teoria Crítica (SETC)
Uma das primeiras reuniões do GP Teoria Crítica e Educação
Artigo do Prof. Dr. Alexandre Vaz sobre morte do Dr. Sócrates
HOMENAGEM AO PROFESSOR NEWTON RAMOS DE OLIVEIRA
VIII Congresso Internacional de Teoria Crítica: desafios na era digital