Da Luz à Letra | Obras Literárias Latino-Americanas

 

O que pode ser a fotografia? Esta pergunta talvez seja a mais apropriada para o nosso tempo. Um tempo sem tempo, de profundas mudanças e rasas assimilações. Neste tempo tecnológico, a fotografia pode ser muitas. Tudo se mistura, a linguagem se hibridiza e com isso supera definitivamente sua condição representacional.
 

Os grãos agora podem ser pixels, pontos numéricos iluminados que traduzidos por um sistema informático se convertem em cores, texturas, formas. Alguns chamam de fotografia numérica ou digital. Outra fotografia? Talvez a mesma, mas num momento histórico diferente.
 

Junto disso, a fotografia também convida a memória. Imagens recordam trechos de estórias que recontam a História. Ligar a luz à letra torna a fotografia mais política, mais poética, mais polêmica.
 

Sendo assim, a 6ª edição do Salão Universitário de Fotografia OLHO DE PEIXE da UNIMEP instiga seus participantes a explorarem as múltiplas facetas da linguagem fotográfica e a mergulharem no universo da literatura. A proposta é que cada participante possa dar um título à sua fotografia com alguma lembrança literária de obras latino-americanas. Feito o registro, olhando a foto, qual será sua legenda? Uma obra, uma frase, uma personagem... de um romance, um conto, um poema, uma peça, uma canção, uma novela...
 

Aliás, essa proposta aproveita o aniversário de cinquenta anos do lançamento do fantástico livro de Gabriel Garcia Marquez – Cem anos de solidão. Assim, por exemplo, uma foto poderia ter o título: Lembrando “Macondo”, de Gabriel Garcia Marquez. Ou outra legenda: Lembrando “Diadorim”, de Guimarães Rosa. E também: Lembrando “Mãos dadas”, Carlos Drummond de Andrade. Também assim: Lembrando “Natimorto”, de Lourenço Mutarelli. E mais: Lembrando “Yolanda”, de Pablo Milanez & Chico Buarque; Lembrando “A biblioteca de Babel”, de Jorge Luis Borges; Lembrando “A casa verde”, de Mario Vargas Llosa” Etc. Etc. Etc.
 

Se iluminar a palavra é um desafio, “palavrar” a luz talvez subverta a tradição de se usar a fotografia apenas para ilustrar uma ideia ou texto. Façamos o caminho inverso, perverso...

O 6º Salão Universitário de Fotografia OLHO DE PEIXE da UNIMEP ousa um certo desacato: da luz criar a letra.